Visão do palco principal do Lollapalooza Brasil

Um papo com Marcelo Beraldo, curador do Lollapalooza BR

“Você não está vendendo apenas ingressos; você está oferecendo sonhos. Essa é a magia dos festivais.”

No Mapa dos Festivais, buscamos entender o que torna grandes eventos como o Lollapalooza tão icônicos e como eles impactam o mercado e a cultura. Para isso, conversamos com Marcelo Beraldo, figura chave na introdução e crescimento do Lolla no Brasil. Em um bate-papo que uniu visões de mercado e paixão pela música, ele compartilhou insights sobre o festival, os desafios do setor e sua própria jornada.

O Lollapalooza no Brasil: Paixão e Logística

Quando o Lollapalooza chegou ao Brasil, em 2012, o mercado de festivais desse porte ainda era uma terra a ser explorada. Beraldo foi um dos responsáveis por trazer o evento ao país, negociando diretamente com a equipe americana. “Eles praticamente inventaram o mercado como o conhecemos hoje”, comenta. Foi também sob sua coordenação que o festival trouxe pela primeira vez ao Brasil o Foo Fighters, marcando um momento histórico para a música ao vivo no país.

Foo Fighters finalmente veio ao Brasil no Lollapalooza 2012. Foto de TMDQA.

E falando em line up… Beraldo destaca que a curadoria do Lollapalooza precisa equilibrar gêneros como pop, rap e rock (entre outros) para atender à pluralidade do público. A gente, que curte muita música, sabe que historicamente, o rock foi por muito tempo o carro-chefe dos festivais, mas vem perdendo força como principal atrativo para eventos do porte do Lolla. “Se você precisa vender 100 mil ingressos, não dá para ser purista. É um negócio e ele precisa ser sustentável. Não dá pra ficar buscando só rock alternativo, sabe?” 

Essa mudança também exige uma curadoria mais criativa e eclética, capaz de refletir a diversidade musical e atender às expectativas de diferentes gerações. Assim, os headliners são escolhidos com base em relevância e capacidade de atrair público, ao mesmo tempo em que artistas brasileiros em ascensão ganham espaço para se destacar no evento, mantendo o festival relevante para públicos variados.

Os desafios logísticos também fazem parte da rotina. O alto custo do câmbio e as complexidades de trazer artistas internacionais para a América do Sul exigem soluções criativas. Apesar disso, Marcelo acredita que a experiência do festival vale o esforço: “A sensação de liberdade e comunhão que você vive em um festival é incomparável.”

Ainda assim, com todo esse esforço, ninguém esquece os vários cancelamentos de headliners que o Lolla BR já enfrentou. Para o curador, claro que fica a frustração do público, mas o foco vai ser sempre em resolver do melhor jeito possível. “Não vamos brigar com artistas. Nossa matéria-prima são eles, e mantê-los felizes é essencial para a continuidade da empresa.” Foi assim tanto com o cancelamento de Drake, em 2023 (substituído pelo DJ e produtor Skrillex), como com a ausência do Foo Fighters em 2022, devido ao falecimento do baterista Taylor Hawkins, o que deu oportunidade de levar Marcelo D2, Emicida, Criolo, Planet Hemp e outros artistas do rap nacional para o palco principal do Lolla BR.

Skrillex no Lollapalooza Brasil 2023 substituindo o rapper Drake. Foto de Anthony Larpin.

Os desafios do mercado de festivais

Para Beraldo, os festivais são muito mais do que eventos musicais; são espaços de conexão e transformação. Ele aponta que a fragmentação no consumo de música causada pelo streaming mudou a forma como o público descobre novos artistas, mas também trouxe desafios para o mercado. “Hoje, você não tem mais aquele hábito de ouvir um álbum inteiro. Tudo ficou muito fragmentado. Isso deveria ajudar artistas menores, mas as casas independentes ainda enfrentam dificuldades no mundo inteiro.” Para ele, os festivais desempenham um papel crucial, funcionando como ponto de equilíbrio nesse cenário de mudanças.

Marcelo também defende a importância de democratizar o acesso à música ao vivo. “Mais da metade dos brasileiros não vai a nenhum show por ano. Isso significa que temos mais de 100 milhões de pessoas que poderiam ser atingidas por experiências ao vivo.”

Mas quem é Marcelo Beraldo?

Marcelo Beraldo começou sua carreira no mercado financeiro, atuando em bancos de investimento e na gestão de fundos. “Foi uma grande escola, porque eu via vários tipos de negócios diferentes, sempre com uma análise crítica”, contou ao Mapa dos Festivais. Contudo, sua verdadeira paixão pela música aflorou ao fundar o restaurante JAM, que combinava comida japonesa com apresentações ao vivo. Foi ali que ele percebeu que seu amor pela música superava o da gastronomia.

A transição para o mundo dos festivais aconteceu de maneira natural. Beraldo deixou a administração do restaurante e fundou sua produtora, promovendo shows e festivais em Ilhabela por seis verões consecutivos. Esse foi o início de uma paixão pelos festivais que transformaria sua carreira. Segundo Beraldo, na época, o mercado de eventos no Brasil era extremamente amador. Mesmo em turnês de grandes artistas, processos básicos eram negligenciados. “Percebi que, se aplicasse o que aprendi no mercado financeiro – como análise de contratos e gestão financeira – poderia fazer algo diferente”, relata Beraldo. 

Alguém discorda que o cara conseguiu?

Janso

Escrever sobre música é algo que me move há muito tempo. Tenho prazer em compartilhar minhas opiniões e interpretações sobre um tema que é capaz de provocar qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, e faço isso há uns 20 anos. Música é fascinante e escrever sobre ela também. Já fui repórter, crítico musical, publicitário e uma porrada de outras coisas. Claro que já toquei em banda. Eu vi o ápice dos Strokes, tava lá no primeiro show do Radiohead no Brasil e peguei uma das últimas edições do Tim Festival (aquele com a Björk, manja?). Agora tô achando um barato colaborar com o Mapa em pautas que exploram essa paixão tão antiga.

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