O mês é do orgulho, mas será que estamos abrindo espaço para a comunidade LGBTQIAPN+ na cultura?

Junho é o Mês do Orgulho LGBTQIAPN+, um período simbólico que marca a luta por visibilidade, respeito e direitos. A escolha da data tem origem nos protestos de Stonewall, que aconteceram em 1969, quando a comunidade queer se revoltou contra a violência policial praticada em um bar LGBTQIAPN+ de Nova York.

Liderado por Marsha P. Johnson, uma drag queen, travesti e ativista norte-americana, o ato foi um marco de resistência e é lembrado até hoje como o início do movimento moderno por direitos LGBTQIA+ no mundo.

É por causa dessa revolta que o Dia do Orgulho é celebrado em 28 de junho. Em memória àquela madrugada em que a comunidade decidiu dizer: chega de violência, chega de invisibilidade.

Mais de 50 anos depois, o Orgulho virou pauta de marcas, ganhou espaço na cultura pop e chegou aos palcos dos festivais. Mas a pergunta é: será que ele chegou para todes?

“As desigualdades e opressões de gênero se manifestam em diversos campos sociais, inclusive de arte e cultura. Neste sentido, a maior parte dos festivais no Brasil e até a nível mundial ainda concentram um line-up majoritariamente masculino”, aponta o relatório Lista Trans – Um Panorama dos Festivais Brasileiros de 2023, levantado pela pesquisadora e socióloga Iná Cholodoski, e pelo pesquisador e antropólogo Macaia Ferro. 

É importante pensar na comunidade LGBTQIAPN+ para além de datas e militância

“Da mesma forma que a sustentabilidade e a equidade de gênero se tornaram pautas importantes a serem tomadas pela organização de grandes produções culturais, a importância de um público mais diverso e próximo da realidade tem se tornado eminente”, destaca o relatório Lista Trans – Um Panorama dos Festivais Brasileiros de 2023.

Além de se ver nos palcos, é importante que pessoas trans e não bináries estejam presentes em eventos culturais, e é aí que entram as Listas T&NB. Essa ação adotada por alguns festivais, além de valorizar a cena, também garante o acesso gratuito de pessoas da comunidade à cultura e aos festivais. Porque todo mundo tem direito à cultura e nem sempre estar ali como plateia é garantido para todes.

Diversidade não é um nicho, é urgência!

Nos últimos anos, observamos uma tendência preocupante: a diminuição do apoio de marcas a iniciativas LGBTQIAPN+. Segundo a pesquisa Global Advisor LGBT+ 2024 da Ipsos, o apoio global a marcas que promovem igualdade para pessoas LGBTQIAPN+ caiu de 49% em 2021 para 44% em 2024. No Brasil, embora o apoio seja maior, com 53% dos entrevistados demonstrando suporte, ainda há 13% que se opõem a esse tipo de iniciativa.

Esse afastamento das marcas pode estar acontecendo por diversos motivos, incluindo pressões de grupos conservadores e mudanças nas estratégias de marketing das empresas. Por exemplo, nos Estados Unidos, marcas como Target e Bud Light enfrentaram boicotes após campanhas voltadas para o público LGBTQIAPN+, as levando a apresentar uma postura mais cautelosa em relação a ações durante o Mês do Orgulho.

De qualquer forma, é fundamental que as marcas compreendam que a diversidade não deve ser tratada como uma tendência passageira ou uma estratégia de marketing sazonal. A representatividade e o apoio à comunidade LGBTQIAPN+ devem ser constantes e refletidos em todas as ações da empresa, desde a publicidade até a composição de seus quadros de funcionários.

Há do que se orgulhar, mas estamos longe do ideal

A boa notícia é que existem festivais que tentam mudar esse cenário. Eventos como Hopi Pride Festival, Transforma Música, BATEKOO, La Folie, Presença Festival e Castro Festival são exemplos de espaços que colocam a diversidade no centro da experiência e que comprovam que é possível criar festivais mais inclusivos sem abrir mão de público, impacto ou sucesso.Mas essa responsabilidade não pode ficar só com os eventos criados pela própria comunidade. Enquanto as grandes marcas e produtores não se comprometerem com uma mudança real de curadoria, contratação e cuidado com quem sobe ao palco, o discurso do orgulho corre o risco de continuar sendo só isso: discurso.

No mês do orgulho, a gente aproveita pra lembrar que representatividade não é cota, é espelho. E se tem gente que não se vê nos palcos e na plateia dos grandes festivais, é porque ainda tem muita coisa pra mudar.

Laura Araújo

Jornalista musical, soteropolitana e apaixonada por escrever sobre cultura. Sempre de fones ouvindo música ou bons podcasts, gosto de traduzir cultura, música, shows e festivais em textos. No Mapa dos Festivais, encontro o equilíbrio perfeito entre jornalismo, criatividade e a paixão por explorar tudo o que movimenta a cena musical brasileira.

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