Um papo com Lúcio Ribeiro, do Popload Festival

Conversamos com o jornalista e curador musical sobre o atual momento do mercado de festivais, o desafio de montar line ups e a importância de ter um festival consolidado em 2025.

Lúcio Ribeiro vem escrevendo sobre cultura pop e respirando o universo de shows e festivais há pelo menos 30 anos. Ele é o nome por trás da coluna que nasceu na Folha de São Paulo em 1999, primeiro com o nome de Download, e que depois foi se desdobrando em diferentes nomes e formatos até chegar no que conhecemos hoje como Popload

E quando falamos em Popload, estamos falando de muita coisa. Hoje, a ex-coluna da Folha, que também foi um blog no Uol, é uma plataforma de notícias com site próprio e ainda abarca um selo, o Popload Gig, que desde 2009 já trouxe mais de 60 shows pro Brasil. Isso sem falar, é claro, do Popload Festival, que acontece em São Paulo desde 2013 e hoje faz parte da Tickets For Fun.

Assim como a plataforma, o festival também foi se transformando ao longo dos anos

Em sua primeira edição, o Popload Festival contou com The XX, Yuck, Silva, Aldo The Band e o DJ Set de Joe Goddard, do Hot Chip, no line up. Nove edições depois, o festival, que começou pequeno e independente, viu-se encorpando, crescendo e abarcando cada vez mais pessoas e gêneros musicais.

“A gente atravessou todas as fases, de bandas pequenas, bandas indies, a identificação do público com um certo nicho até que a gente começou a crescer e foi trazendo mais gente, inclusive, gente que não conhecia a Popload”, contou Lúcio Ribeiro ao Mapa dos Festivais. 

Segundo o jornalista e curador do Popload Festival, esse também foi um reflexo natural da forma como consumimos música hoje em dia, principalmente através das plataformas de streaming que disponibilizam um catálogo imenso de artistas e gêneros musicais diferentes: “Você às vezes não consegue chegar num número exato de se essa banda é uma boa pra vir ou não. Se ela atrai público ou se ela só é faladinha no Instagram ou no Spotify. Muitos seguidores não correspondem necessariamente à venda de ingressos”, explicou.

Popload Festival 2019. Foto: Divulgação / Popload.

Paralelo a isso, a identidade do festival foi mudando ao passo que o público também foi aceitando outros gêneros musicais.

“Eu tenho amigos que são super consumidores de ‘bandas Popload’, independentes, mas que vão à samba, vão à eletrônico, que vão a todo tipo de coisa. A gente consegue pegar essa galera que hoje em dia por um milhão de fatores é tão diversa no gosto e ser menos nichado porque a nossa fase de super nichado, a gente já fez”, comentou Lúcio Ribeiro.

A crise dos headliners também chegou no Popload Festival

Fora essa mudança de comportamento musical do público, a fórmula para montar line ups e eventos, no geral, mudou ao longo desses 13 anos de Popload Festival. Com uma maior quantidade de shows internacionais no Brasil, tanto solo como em festivais, a tarefa de encontrar bons headliners ficou mais difícil.

“É um posicionamento de mercado que a gente vai às compras. O que que tem nas gôndolas, sendo que 200 pessoas já passaram lá de manhã pra comprar, sabe? Esse artista seria legal, daria público, mas é estranho. Ah, então vamos tentar um outro. Esse aqui seria um pouco esquisitinho, vamos tentar? Então, vamos nessa”, simulou. 

Longe da romantização que nós, fãs de música e festivais, temos do que é montar um line up, para um curador a escalação de artistas funciona como um quebra-cabeças em que é necessário ser criativo e flexível diante de fatores diversos como ‘custo Brasil’, logística, concorrência do mercado e dificuldade de mensurar quem vende ingressos ou não.

No entanto, o Popload sempre foi um festival conhecido por trazer apostas e ter sacadas de artistas que estão saindo de uma zona mais nichada e indie e se tornando mainstream: “A popload sempre foi de sacadas, né. No momento que a gente trouxe a Lorde, ela tava passando um momento de ser ‘popload’ pra ser ‘pop gigantesca’. Então, ela ainda veio com cara de popload, mas eu não sei se hoje trazer Lorde não soaria esquisito. Lana Del Rey, a mesma coisa”, lembrou. 

Lorde se apresentou no Popload Festival em 2018. Foto: Stephanie Hahne.

Segundo Lúcio Ribeiro, a plataforma formou um público cativo ao longo dos anos, que confia na curadoria do festival e que gosta de se surpreender e de voltar para casa com artistas novos para salvar na playlist.

“Talvez a gente não seja mais tão esquisito como a gente era antes, mas a gente ainda gosta de provocações e acho que o público de Popload também gosta de ser provocado, de não conhecer as bandas, de estar lá ter uma ou duas que ele adora, mas duas que ele não conhece e sai de lá curtindo pra cacete.” 

O Popload Festival também é o lugar onde a fã base da plataforma se encontra – e comunidade é tudo!

Além de contar com o fator surpresa, o Popload Festival também tem a seu favor o fato de acontecer no Parque Ibirapuera, em uma região de fácil acesso da cidade e ao ar livre: “Às vezes você tá com uma banda ótima, fazendo um show ótimo e você sai de lá com uma sensação de nota 7, sendo que pelo show e pelas pessoas que estavam lá podia ser um show nota 9, nota 10. Ambientação é tudo”, comentou. 

Perguntado sobre o futuro do Popload Festival e do mercado, Lúcio afirmou acreditar que esse cenário atual não seja o definitivo: “Eu acho que ainda vai ter um darwinismo de quem vai sobreviver, de quem vai ficar, como vão ser as coisas, quem achou a fórmula razoável para se manter vivo.”

Olhando para o próprio Popload Festival, conseguimos enxergar que a longo prazo, o festival tem algo a seu favor que o beneficia na longevidade e sustentabilidade do projeto: uma comunidade true, que acompanha a plataforma a anos. 

“A gente não necessariamente lotaria de poploaders um espaço gigantesco como o Autódromo de Interlagos, mas o público que a gente atinge é true demais. Ele ecoa bastante o significado de você pertencer a uma cena, de você pertencer a um movimento, a gente vê isso como algo natural porque foi um trabalho de construção de anos”, fechou Lúcio Ribeiro.

Sobre o Popload Festival 2025

Após um hiato de dois anos, o Popload Festival está de volta no dia 31 de maio, no Parque Ibirapuera (SP). Este ano, o festival aposta em um line up majoritariamente feminino com Norah Jones, St. Vincent, Kim Gordon, Laufey e The Lemon Twigs entre os nomes internacionais. Do lado brasileiro, o Terno Rei fará um show exclusivo com Samuel Rosa, Tássia Reis leva sua mistura de rap e MPB, e Exclusive Os Cabides garantem o rock irreverente. Nos vemos lá? Garanta seu ingresso aqui!

Nathalia Pádua

Jornalista formada pela PUCRS, Nathalia é editora do Mapa dos Festivais desde 2022. Ela está à frente do conteúdo da plataforma, liderando a estratégia editorial, planejando pautas e conectando festivais, artistas e marcas através da informação. Há 10 anos vem trilhando uma trajetória dentro do mercado da música - seja pesquisando, como curadora musical ou escrevendo sobre o assunto. Quando não está mergulhada no universo dos festivais, você pode encontrar a Nah no meio de um bloco de Carnaval ou torcendo pelo Grêmio.

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